segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Sejamos!

Me atrevo, pois, a lançar aqui alguns gracejos sem graça, à guisa de inauguração:

Numa aula de matemática da quinta-série, o menininho ouvia atento os algebrismos. No meio deles, sem pedir licença nem permissão, rasgando a lógica do problema exposto no quadro negro, na verdade verde - uma frase. Resolver problemas é uma simples questão de habilidade ou tempo, mas gerar novos problemas ou olhar os antigos com um ângulo novo requer imaginação criadora, e é isso que contribue para o progresso da ciência (EISTEIN, 19??). Me abstive da gramática e das aspas porque não quero conceder ao grande físico palavras que não sejam suas, mas que foram essas palavras usadas e esse o cara escolhido como autor, isso foi, conforme disse o mestre. E o mestre que falo, foi professor nosso, Geraldo Macêdo, com acento circunflexo no e, escrito com sua mão canhota.
E mesmo querendo a todo custo negar a autobiografia, o moleque é-me eu mesmo, admito. Na época, enxadrista de primeira linha para a idade, bom para números; hoje, um nada. Nem sei como o tempo conseguiu incutir em mim dificuldades de aprendizagem, quer dizer, até sei, mas não vem ao caso contar aqui o que já são outros cem mil-réis. Não lembro mais da indução matemática dos livros vermelhos que o mestre me indicou, mas lembro perfeitamente da frase atribuída ao gênio de cabelos arrepiados e língua pra fora. Isso porque há certas coisas que marcam a vida e a lembrança da gente, mesmo sem ter um sentido específico. Um quadro abstrato com a moldura enparafusada na parede da memória.
Quem sabe seja nossa intenção isto: pintar esses modernismos nas mentes mais atentas da atualidade, mesmo que depois seja apagada com cal. Apesar de levar a escalação da seleção brasileira de 1994, o poema Cante Lá que eu Canto Cá e uma dúzia de partidas de xadrez na memória, ainda me sobra um abismo de conhecimentos vagos, que existem e não detenho, outro detém. Por isso que nós reunimos aqui, alguns amigos de longa data, outros de data nem tão longa assim, pra juntar os abismo que se chamam, que gritam com os ecos dos próprios abismos. Abyssus abyssum invocat. Para comungarmos juntos do mesmo pão, pão de Ló. Quem sabe não sirva pra alimentar jumentos, mas somos um pouco menos que isso, somos gente. Ou pelo menos, sejamos!