sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Considerações sobre o velho vigilante

Quando o Estado não cumpre a função de segurança, a sociedade busca outros meios. No caso do bairro do Roney, a vizinhança achou por bem contratar um velhote metido a leão de chácara. No emaranhado das leis, isso pode dar merda.

Algumas complicações:

- Exercício ilegal de profissão. Para exercer esse trabalho, Seu Cosme deveria ser funcionário de uma empresa de segurança privada idônea.

- Porte ilegal de armas. Sendo um velho, Seu Cosme não podia contar só com a sua perspicácia e com a sua força física descomunal combinada a um mortal cassetete. No mínimo, devia andar com um 38 canela-seca na cintura. E deduz-se que ele não tinha permissão legal pra usar um trabuco desses.

- Usurpação de função pública. Se visse algum suspeito, com que legitimidade o nosso herói poderia abordá-lo?

- Perturbação do sossego alheio. Aquele apito chato ecoando na noite silente acorda qualquer um. Sem mais.

- Criação de vínculo empregatício entre Seu Cosme e a vizinhança.

- Se Seu Cosme morresse ou levasse um balaço durante o serviço, os contratantes poderiam ser “enquadrados” por responsabilidade solidária concorrente e ainda poderiam pagar os encargos trabalhistas, como INSS, FGTS, PIS etc.

O pior de tudo é a sensação ilusória de segurança. O que pode fazer um velho decrépito diante de um robusto meliante armado? Sem preparo, só pode morrer.

Mas, e aí? Se o Estado não faz, fazer o quê? Antes de dormir, rezar pedindo o tranqüilo sono dos justos? Antes deixar uma isca aos pilantras, resolveu a vizinhança.

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