terça-feira, 13 de novembro de 2007

Sr. Lawrence Cosme Kohlberg, o vigia

Não era o objetivo inicial, mas pelos sopros dos ventos do destino, o Sr. Antônio Cosme Feijão tornou-se alvo constante de análise dos mais diversos tipos, dentro das mais diversas teorias. É objetivo agora analisá-lo sob os aspectos do desenvolvimento moral dissertados pelo norte-americano Lawrence Kohlberg. Ele divide o desenvolvimento moral em três níveis, e cada nível, em dois estágios que serão abordados um a um em seguida.

O estágio mais primitivo corresponde às atitudes praticadas com temor da punição. Seu Cosme, coitado, só vigiava por medo de ser processado. Assim como eu, pouco sabia de leis. Mas outro vizinho meu, de uma esperteza um pouco mais apurada, jurou de pé junto, mão na escritura, que se sumisse um alfinete de sua casa, entraria com um processo judicial sobre o vigilante. Se esse morador sabia de alguma lei, com certeza era da Lei de Gerson, aquela de tirar vantagem em tudo.

O outro estágio do nível pré-convencional se caracteriza pelo desejo da recompensa. Incansável, Seu Cosme, inocente e esperançoso, ficava horas a fio, rondando, rondando, sem parar de rondar. E apito anunciava sua presença a quem queria e a quem não queria sabê-la. Com isso, esperava receber um pouquinho mais que os 10 contos prometidos. Nem que fosse 10 contos e um café, ou 10 contos e um elogio para aumentar o ego naqueles dias mais cinzentos.

O estágio que abre o nível convencional está na tentativa de ser visto como o "bom moço". Nada melhor para o velhote que ser reconhecido como bom vigilante, ciente de suas atribuições e fiel cumpridor de suas obrigações. Sempre presente, cumprimentando a todos que via com seu boa noite habitual e educado.

Já o quarto estágio é voltado para a autoridade. Ele cumpre seus deveres porque assim manda a lei. E lei não se pondera, cumpre. Rígido, não aceitava um senão, ou desvio da rota que conduzia a perfeita execução da vigilância do local. Seu Cosme, o Caxias com um colete preto escrito "segurança". A espada invicta virara o mortal cassetete e o cavalo, a bicicleta caloi de barra circula e cestinha na frente. Era rosa, mas pintava de preto para melhor condizer com o exercícios de suas funções.

O nível pós-convencional inicia-se com a sapiência que as regras são falíveis, uma espécie de "contrato social". Realmente, é bom que se vigie, mas que mal tem num cigarrinho de palha sentado na praça? Nem tudo pode ser feito às riscas. Em compensação, aqueles 10 contos poderiam virar 9 com um pedaço de bolo que restara do aniversário da sogra. Nada mal. Não é necessário se prender tanto assim aos ditames contratuais. Vamos e venhamos, vigiemos numa boa.

O último nível da teoria de Lawrence encerra as virtudes excelsas de justiça. Se faz o que se tem de fazer, porque assim é o correto. O Seu Cosme vigia o bairro com seus nobre motivos de transmitir paz e tranquilidade ao bairro de Roney, de Marcelo, de Gerson. Deseja ver estampado o sorriso no rosto das crianças protegidas, da sogra bem cuidada. Quer ver os moleques brincando de carimba depois da missa, as meninas contando os sete pecados. Quer os enamorados nas calçadas, com beijos modestos, mas despreocupados com os possíveis pilantras. Quer vida e vida em abundância, num país em que a Justiça não seja iguaria de festa, mas o pão-nosso de cada dia, como já disse um brasileiro bom.

Dá-lhe, Seu Cosme, estou contigo e não abro!

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